Por: Inês Fernandes
A deficiência intelectual é caracterizada por “uma função intelectual significativamente abaixo da média, combinada com mais de 2 das limitações seguintes: comunicação, orientação, habilidades sociais, autoproteção, uso de recursos comunitários e manutenção de segurança pessoal”, segundo o manual MSD para profissionais de saúde (Merck Sharp & Dohme Corp, é uma das maiores empresas de saúde mundiais). De acordo com o gabinete de estratégia e planeamento, nos censos de 2011, estimava-se que existissem cerca de 399 889 pessoas em Portugal que não conseguiam compreender os outros ou fazer-se compreender e que no ano letivo de 2015/2016 existiam mais de 78mil crianças e alunos com necessidades especiais de educação.
Com o objetivo de mudar a vida de pessoas com deficiências intelectuais e múltiplas profundas, nasceu o projeto de investigação denominado Insension. É em Poznan, na Polónia que, este projeto está a ser desenvolvido num jardim de infância. Conciliando a inteligência artificial com a internet das coisas, pretende-se criar uma plataforma digital personalizada que consiste de um banco de dados de imagens de vídeo e registos áudio recolhidos da pessoa com deficiência que permitirá ao sistema entender os gestos relevantes atribuindo-lhes um significado, que de seguida é comunicado ao cuidador.
O pensamento por detrás deste projeto é dar a oportunidade de comunicar a quem não a tem, pelo menos nas formas mais tradicionais como verbal, através de expressões faciais e outros gestos, desta forma o sistema pretende reconhecer comportamentos que à partida poderiam não ter significado, mas que permitem extrair uma forma de comunicação com o indivíduo. Os comportamentos de pessoas com deficiências múltiplas e profundas geralmente resultam de uma resposta ao que as rodeia, podendo referir-se a protestos, ou vontade de que algo continue. Para interpretar este tipo de situações é por isso importante avaliar o contexto em que se encontram, com esse intuito o sistema recorre a câmaras, que permitem identificar outras pessoas, monitorizar a posição, identificar objetos, ou reconhecer atividades como comer; microfones para a análise sonora, reconhecendo diversos sons, incluindo música e a voz de outras pessoas e sensores que permitem monitorizar parâmetros ambientais como temperatura ou iluminação e ainda alterá-los, de tal forma garantindo mais autonomia à pessoa com deficiência, como por exemplo reconhecer quando esta quer desligar a luz ou ligar a música, permitindo-a de certa forma ter o controlo que nunca lhe foi possível.
Essencialmente a Plataforma consiste no processamento de dados de vídeo, áudio, ambiente e fisiologia, detetando eventos e gerando mensagens com base nos resultados deste processamento. As mensagens geradas servem ainda de input para o processamento de restantes componentes que determinam a intenção do utilizador. Por fim este desejo do utente pode se tornar tangível através de aplicações e serviços de assistência (Figura 1).
Esta plataforma não pretende substituir o cuidador, mas sim auxiliá-lo, nas palavras do Dr. Peter Zentel, professor na universidade de educação de Heidelberg, “a interação humana não pode ser substituída pela tecnologia, mas pode ser enriquecida e facilitada através da mesma”. Apesar desta investigação ainda estar numa fase inicial, espera-se que este projeto possa ser disponibilizado a todos num futuro próximo, ajudando pais, cuidadores e especialmente as crianças a levar uma vida mais independente.
“It is entirely possible that behind the perception of our senses, worlds are hidden of which we are unaware.”
Albert Einstein