No passado mês de novembro foi aprovado que uma análise sanguínea desenhada para detetar diferentes tipos de cancro fosse testada pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido. Este teste é conhecido como Galleri e está a ser desenvolvido pela Grail, uma empresa da Califórnia que tem como foco a deteção precoce de cancros. Galleri foi aprovado exatamente devido à importância de detetar cancros o mais cedo possível, de forma a intervir de forma rápida e eficaz, aumentando assim as taxas de sobrevivência.
É importante salientar que fazer uma análise de sangue que seja precisa e confiável o suficiente é altamente complexo, porque é necessário que não haja falsos positivos, mas mais importante que isso… Que não haja falsos negativos. Com isso em mente, a Grail defende que esta será a melhor forma de deteção de cancros, porque não será necessário analisar-se cada órgão, como é feito atualmente com o auxílio de técnicas de imagiologia. Para além disso, a imagiologia só marca a diferença para cancros específicos e a maior parte das vezes deteta-os em estágios tardios.
Esta nova tecnologia interliga o conhecimento de genómica, machine learning e data science de forma a identificar cerca de 50 tipos de cancro diferentes e consegue prever a sua localização com uma precisão bastante alta. Com o conhecimento obtido os profissionais de saúde têm o poder de intervir antes do cancro se começar a espalhar e seja mais difícil parar esta propagação.
A questão que se coloca é… Como é que será possível esta deteção? Existem evidências que levam a comunidade científica a acreditar que agregados tumorais libertam ácidos nucleicos característicos na corrente sanguínea, que se designam ácidos nucleicos cell-free (cfNAs). Estes contêm as características genéticas do tumor a que pertencem e sendo detetáveis, existe a possibilidade de serem encontrados na corrente sanguínea de doentes oncológicos antes destes terem sintomas ativos. Assim, testes baseados em cfNAs podem vir a ser bastante específicos e precisos.
Embora haja esta descoberta, existem na nossa corrente sanguínea cfNAs que são originados em células não cancerígenas, e por isso a Grail está a usar ferramentas de data science que permitem analisar estes fragmentos para que se encontrem sinais que auxiliem essa distinção. Assim, existem algoritmos de machine learning que analisam datasets de forma a conseguirem distinguir com a maior precisão possível sinais de tumores.
O objetivo desta parceria com o Serviço Nacional de Saúde britânico é perceber as limitações do Galleri através de uma investigação de larga escala, com uma amostra muito maior do que aquelas que teriam num laboratório convencional. Estas limitações passam por tentar perceber se o número de falsos positivos é muito elevado, se vão passar despercebidos alguns casos devido a falsos negativos e de que forma este tipo de resultados vai afetar a saúde mental dos pacientes.
FONTES:
BBC News | Cancer: Blood test for 50 types to be trialled by NHS
Grail
Cancer Research UK | NHS to pilot blood test that could detect over 50 different cancer types