Por: Inês Fernandes
O estágio de 3º ano, para muitos, eu incluída, um poço de incertezas e ansiedades… Será que alguém me aceita com tão pouca experiência? E se ninguém me responder? E se a resposta for sempre negativa?
A verdade é que todos conseguimos um estágio e quando estamos prestes a desistir aparece uma luzinha ao fundo do túnel.
O primeiro passo é escolheres a área em que gostarias de trabalhar, isto ajuda bastante a reduzires a enorme panóplia de opções. Para além disso saberes se queres fazer Erasmus ou ficar em Portugal é também um ponto crucial, porque a burocracia é muita e os prazos são curtos.
O passo seguinte é começar a fazer contactos: muitas vezes não obtemos resposta, ou depois de uma espera infinita a resposta é negativa. O importante é não desesperar e, se não souberes mais o que fazer, fala com o teu orientador ou qualquer outro professor do IBEB, eles podem ser uma grande ajuda, como vim a descobrir.
Sabia desde o início que queria ficar em Portugal e que a área das Neurociências era a que mais me despertava interesse, o que logo à partida diminui o leque de escolhas. Comecei a entrar em contacto com os locais que me interessavam , essencialmente para grupos na Champalimaud e no IMM (Instituto de Medicina Molecular), mas para além da longa (des)espera, a resposta, quando vinha, era negativa, e geralmente sempre a mesma “obrigada pelo seu interesse, mas de momento o laboratório já não tem capacidade para receber mais alunos”. À beira do desespero, tentei outra abordagem, fui falar com alguém que me pudesse dar a conhecer outras instituições ou grupos que me pudessem acolher, claro está, um professor do IBEB.
Foi através deste contacto que conheci o CEDOC (Research center of chronical diseases) e o laboratório Neurogenetics of Locomotion do Dr. César Mendes, que tal como o nome sugere estuda os circuitos e genes envolvidos na locomoção. Enviei um e-mail com o meu currículo e uma carta de motivação, obtive pronta resposta com convite para uma entrevista. Desloquei-me até ao laboratório e após a entrevista fui aceite (escusado será dizer que me saiu um grande peso dos ombros).
Um mês após o início do estágio, posso dizer que, apesar de não ter sido nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira (é melhor não continuar!) opção, foi sem dúvida a melhor opção! Estagiar num laboratório mais pequeno tem as suas vantagens, como o maior acompanhamento que recebemos e a possibilidade de participar em cada etapa do projeto. Tenho aprendido imenso! Tive a oportunidade de aprender a trabalhar com um modelo animal, a drosophila melanogaster, mais conhecida por mosca da fruta, e como é possível fazer a manipulação genética destes animais e usar esta ferramenta a nosso favor.
O meu projeto de estágio incide sobre o estudo da influência das estruturas sensoriais na modulação e coordenação da locomoção, utilizando optogenética, uma ferramenta que nos permite ativar uma determinada população de neurónios com apenas um feixe de luz. Tive a oportunidade de utilizar diversos setups experimentais incluído o Flywalker, que permite obter com precisão vários parâmetros relacionados com o gait da mosca. Esta foi ainda uma excelente oportunidade para pôr em prática diversas áreas de conhecimento do nosso curso, desde da biologia, passando pela programação e eletrónica e até mesmo computer assisted design (CAD).
Tem sido uma experiência fantástica que me abriu novos horizontes e deu a conhecer novas realidades, despertando a minha curiosidade para o mundo da investigação. Percebi que acima de tudo o melhor é “pôr as mãos na massa” e, que se gostarmos do que fazemos, quando damos por nós o verão já passou e aquilo que ganhamos compensa as férias que perdemos.