Obrigado, em nome do NE2B2, por teres aceitado este convite e por cederes parte do teu tempo para participar nesta rúbrica.
Soube que realizaste o estágio em Itália, em que cidade ao certo?
Em Pisa, mas o estágio em si era numa pequena cidade ao lado de Pisa chamada Pontedera, que ficava a meia hora de comboio de Pisa.
Pisa foi a tua primeira opção ou tinhas pensado noutros sítios?
Não, não foi (entre risos). Eu tinha pensado na altura ir para a Holanda. Tinha visto em Torrent e em Amsterdão alguns projetos, mas não cheguei a mandar e-mail a nenhum. E também tinha planeado ir com um grupo de 6 amigos para o estágio, então, em conjunto, acabamos por decidir ir para Pisa. Escolhemos Pisa, por causa de uma antiga aluna chamada Catarina Hoosseni, que na altura também tinha feito uma entrevista, na qual referia que foi para o Instituto de Sant’Anna e que gostou muito do estágio e da cidade. Então, foi nesse instituto que 5 de nós conseguiram o estágio.
Então vocês ficaram todos no mesmo instituto, mas tinham projetos diferentes?
Sim, no site de Sant’Anna tinhas lá todos os laboratórios em que eles trabalhavam e cada um escolheu a que gostava mais. Eu fiquei em deep touch learning, a neurologia por de trás do toque do dedo.
É muito giro poderem ir todos para o mesmo instituto, mas poderem trabalhar cada um na área que mais gosta.
Foi difícil arranjar estágio?
Não, foi o meu 3º mail e rejeitei o segundo porque era todo online.
E já que estamos a falar sobre isto, conta-nos um bocadinho do que foi o teu trabalho lá.
Eu comecei a trabalhar ainda em Lisboa, eles pediram-me para eu fazer um protótipo de uma plataforma, para segurar o teu dedo de uma maneira estável, enquanto é estimulado. Despois, em Itália, continuei a desenvolver este projeto, já com o acompanhamento do meu mentor. Ele ia me dizendo “olha isto aqui não pode ser assim, porque estás a dar muito estímulo ao dedo”, porque o propósito era que a plataforma estimulasse o mínimo o dedo possível de forma a medires os estímulos de fora. Isto era o principal, depois também fazia impressão 3D dos protótipos que desenhava, para ver se estava tudo bem, se as medições estavam bem e se as peças encaixavam bem umas nas outras. Cheguei a imprimir coisas para fazer como porta-chaves e dei a cada um dos meus amigos que estava lá comigo. Tirei da net o protótipo de uma fatia e passadas 3 horas tinha uma fatia de piza imprimida para cada um dos meus amigos. Além disso, também ajudava o meu mentor no seu projeto. Ajudei-o a escolher e comprar partes de circuitos, cheguei a fazer um desenho de uma base para a parte eletrónica, etc…
Que ferramenta utilizavas para fazer os desenhos 3D? O Solidworks?
Tinha aprendido Solidworks na faculdade, mas utilizei o Fusion para fazer os desenhos 3D e achei-o muito mais intuitivo.
Foi difícil aprender a mexer no Fusion?
Foi. A maior parte do tempo era pesquisar na net como se faz e se não resultasse, pesquisava-se outra vez.
Sinto que a maior parte dos estágios passa por estar sempre na net a aprender como se fazem as coisas que nos pedem (entre risos).
E agora achas que já estás mais qualificado para trabalhar com desenho assistido por computador?
Eu acho que sim! Até houve duas cadeiras em que eu utilizei as coisas que aprendi. Em dispositivos médicos I e II, desenhei um inalador e agora estou a desenhar uma banda para cintura. E acho que aprendi bastante com a experiência e acabou por me dar boas ferramentas se eu quiser seguir este ramo de impressão 3D e design 3D, que eu gosto muito, aprendi que gosto muito.
Então era uma área que gostavas para a tua vida?
Eu gostava de ter como uma parte da minha vida. Não é necessário ser a parte principal, mas gostava de continuar.
Como é que era o teu horário, não tinhas de estar ali 8 horas a trabalhar arduamente, pois não?
Eu diria que eles me davam uma sugestão: entrar às 9 e sair às 18. Então eu chegava às 9 sim, mas depois ia beber um café com umas das colegas que veio connosco até às 9.30/10. Depois à hora de almoço levávamos 2 horas a almoçar. E depois à tarde havia dias em que saia às 17 e outros em que cheguei a sair às 20.
Grande parte do meu trabalho era por as coisas a imprimir e esperar pelos resultados, então nas impressões grandes de 16 horas, em que eu já sabia que ia correr tudo bem, não precisava de ficar ali. Nas pequenas impressões de 1/2 horas ou ia trabalhar noutra coisa que tivesse de fazer ou se não tivesse nada para fazer ia beber um café. Houve até um dia que eu fui passear pela cidade durante uma hora. Havia muita liberdade.
Então, como descreves o teu nível de “ter de trabalhar”?
Era médio. Eu diria até que era sazonal, nas alturas que eu tinha lá o meu mentor era mais intenso, tinha datas para cumprir, nas outras era mais relaxado. Mas trabalhava os 5 dias da semana.
Gostaste de viver em Itália?
Gostei muito de Itália. É um estilo de vida parecido ao nosso, o clima também, os preços são ligeiramente mais caros, mas aguenta-se (entre risos) era um povo muito hospitaleiro e é um país mesmo bonito. Cada terra tem o seu ambiente e a sua beleza. Por exemplo, nós descobrimos Luca, que é uma cidade pequena ao pé de Pisa, rodeada por uma muralha e nunca tinha ouvido falar, mas acabou por ser dos nossos sítios favoritos.
Uma das coisas mais brutais de Pisa era que às 6/7 e tu não vias as pessoas a ir para casa jantar iam todas fazer o seu aperitivo, a beber Aperol nas esplanadas. Gostei muito desse ambiente, que não se vê tanto cá.
Como é que foi viver com os teus amigos? Podes dizer mal deles à vontade não é como se eles fossem ler isto (entre risos).
Nem é como se eles estivessem quase todos no núcleo (entre risos). Nós estávamos um bocadinho com receio, apesar de nos darmos todos bem. Correu bem, teve os seus altos e baixos, como é obvio, mas nós conseguimos lidar com isso e aprendemos bastante sobre nós próprios, como reagimos e nos sentimos perante determinadas situações. Estávamos todos meio em sintonia do que queríamos fazer, queríamos todos conhecer Itália e acho que estarmos todos em sintonia foi uma das razões de nos darmos tão bem. E acabamos por ter uma excelente experiência, apesar dos obstáculos. Quando vives com muitas pessoas, é uma experiência diferente, não tens tempo para ti. Chegávamos a casa, começávamos a falar de como correu o dia, tomávamos banho, fazíamos o jantar, depois falávamos mais e no dia a seguir tínhamos de nos levantar as 6 e tal da manhã. Não tinhas tempo para ti, eu vi-me a adormecer várias vezes em vídeo chamadas com a minha namorada. Estava mesmo cansado.
Mas isso é muito bom, porque tu estás num país estrangeiro, a fazer uma coisa que nunca fizeste e que não sabes fazer, gera sempre um bocado ansiedade e é bom nem teres tempo para pensar nisso. E mesmo para viajar é muito mais fácil quando tens os teus amigos ali para ir contigo.
É, é. Houve colegas minhas que tiveram trabalhos mais difíceis ao início e isto foi um grande suporte emocional para elas.
Como foi arranjar casa?
Foi difícil, porque eramos 6: queríamos estar todos na mesma casa, queríamos todos quartos individuais. Só arranjamos uma casa assim e foi aí que ficamos.
Quais foram as maiores dificuldades que sentiste? E como é que as ultrapassaste?
No estágio foram os momentos em que não tinha o apoio do meu mentor, sabia as coisas que tinha para fazer, mas não sabia como as fazer e precisava que ele me ajudasse. Não era produtivo. Também fiquei durante duas semanas sozinho no laboratório, tinha que ser eu a abri-lo e fechá-lo e foi logo quando a minha namorada me foi visitar, então queria ir fazer coisas com ela e não podia porque tinha que ir trabalhar.
Queres dar algum conselho as pessoas?
Divirtam-se seja no estágio ou na faculdade.
Sim, eu acho que as pessoas não podem stressar muito com o trabalho do estágio, na maior parte dos estágios os orientadores são compreensivos e não vão ser assim tão exigentes, porque têm noção que ainda nem uma licenciatura temos. Estão no estrangeiro é também para passear, e aproveitar a experiência de ERASMUS. É mesmo desenvolveres-te enquanto pessoa, que também é muito importante para o mundo do trabalho.
Sim e é normal que as pessoas do estágio não valorizem tanto o teu trabalho, para elas tu és uma pessoa que só vai lá estar 3 meses, num laboratório em que as pessoas estão lá há anos a trabalhar. Eles sabem que vocês estão em ERASMUS para passear. Se vocês disserem que precisam de ir de um dia livre para passear eles percebem. Eu mostrava ao meu orientador os sítios onde estive e ele até me dizia mais sítios para ir visitar. Acho que a experiência é mesmo essa. E não fazer nada é uma cena. E é uma coisa que nós não estamos habituados, mas faz parte.
Eu acho que em termos de trabalho, podes até não aprender muito, mas aprendes sobre a área em que trabalhas e sobre o como funciona trabalhar em termos sociais, toda a dinâmica social de trabalhar.
Muito obrigada por estares aqui um tempinho comigo a contar a tua experiência. Estou certa de que irá ajudar alguém!